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25
Jul15

O Mundo é um gajo complicado

por oladolunar

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Vejo o nascer do Sol numa estrada Polaca a caminho de Varsóvia. São 4 da manhã. Os Eslavos levantam-se cedo. Foi um fim de semana delirante. Muita coisa se passou. Muita coisa aconteceu. A maior parte só a nós nos diz respeito. Esta é uma paragem necessária e obrigatória por Lei. O nosso condutor, Pawel, um Polaco gordinho e super profissional, galgou quilómetros e horas e pede meia-hora para descansar. O disco digital incorporado no seu minibus também não nos deixaria partir mas, engraçado, ele programa o despertador para daqui a 40 minutos exactos , fecha as cortinas e põe os óculos de Sol e daí a quarenta minutos exactos entra na estação de serviço onde eu estou no terceiro café da viagem, a sacar net para meter um post que agradeça a quem nos viu nos Cárpatos e avise quem queira ir a Albufeira. Nesta paragem, respiro. Para trás ficaram 22 horas neste mesmo minibus; um regresso ao passado das fronteiras terrestres e das papeladas no nosso caminho entre Eslovénia-Polónia- Ucrânia. Oh, Nikita, is it cold? Para trás "os odeio este país que nos faz secar três horas por causa de miudezas que já não se usam neste Europa unida". Depois a mudança de opinião quando as pessoas que há minutos falhavam com o prometido agora sorriem e nos dão o melhor que têm, a sua gastronomia, o seu chá gelado-fumado; o seu sorriso nas selfies sem fronteiras. A mente muda com a colocação do corpo. A febre da cabina; a exultação do ar livre. Dentro da carrinha, na viagem de ida: os nossos amigos inseparáveis, a banda grega Septic Flesh. Uns pelo oxi, não, pelo apocalíptico Syriza ; outros considerando que sim os gregos festejam e preguiçam em demasia e que os alemães tem razão. Lá fora, uma Polaca de fazer parar o trânsito, cá dentro homens que talvez viajem em demasia. Esperamos, corremos. Esta é a dinâmica dos nossos corpos. Qual será a dinâmica da nossa mente? No avião para casa, atrasado, a tempo, pressas,sorrisos, caras fechadas, lemos as revistas e os jornais. Um sociólogo (perigosamente perto da sociopatia) na Sábado diz mal de tudo. Diz mal do Obama, a sua presidência "um doloroso incidente" que ajudou a legalizar drogas leves; casamento gay; que capturou e matou (talvez simbolicamente apenas) o Bin Laden; que atentou contra o capitalismo da saúde propondo o acesso livre à saude. Amigos pessoais que foram deixados a morrer porque não conseguiram um empréstimo bancário para operarem o tumor no cérebro. Cuba a impedir a transmissão do vírus HIV de mãe para filho (vais dizer mal disto ò Alberto?). Um Portugal de direita, implacável com a Grécia, com o Podemos, simpatizando com a ironia dos destinos negros das grandes civilizações. Em casa de ferreiro...Todas as grandes nações...na merda...Egipto, Portugal, Espanha, Grécia, Itália, PIGS, gerando monstros em vez de maravilhar como outrora. Aconteceu? Contexto, conjuntura, pontes de ignorância do futuro que não consegue aceder ao disco rígido dos continentes, da História sem abstracção. O Mundo é um gajo complicado. Onde está a razão, porquê adicionar ao ruído outro blog, mais palavras, mais amarguras, mais opinião. Alemães que me devem dinheiro enquanto me moralizam. Gregos que polarizam. Que polinizam. Que confusão na cabeça. O Português que tudo sabe e que tudo quer debater. As férias. O nosso umbigo moreno no fim da Europa. As férias. Que todos merecemos por igual. E este nascer do Sol, contemplado em silêncio na estranheza de um mundo que nunca se entenderá. Que nunca entenderei. Vou para casa pensar mas talvez durma. As horas pesam. As palavras ainda mais. Só sei que estamos todos perdidos, todos contra todos, e podia ser poético e agarrar-me ao nascer do Sol, vermelho, eslavo, bonito. Mas não. Alguém me irá chatear por nos sentarmos aqui ou ali, ou porque tiramos a selfie só depois de fazer xixi, ou como é possível eu editar um livro no Brasil se sou contra o acordo ortográfico. Eles. Nós. Tudo é escolha. Marcaremos uma reunião. Um almoço. Afinal todos nos queremos esclarecer. Ter a razão do nosso lado. Todos vitimas, incompreendidas. Tudo é estranho, afinal. Mas há coisas bonitas, Alberto.


1 comentário

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Pedro Lopes 25.07.2015

E tão bom fazer parte da nação Europa ...sinto me tão bem em Paris aonde moro como em Cracóvia ( origens da minha esposa) como de Pombal (origens dos meus pais)... não concordo totalmente contigo relativamente à Grécia... tudo se pague. .sem trabalho..vocês são um exemplo. Em 2014 e voltei aos meus antigos amores escutar metal. Adoro o vosso último álbum assim como o dos septicflesh e decidi vos ver em Paris com 39 anos. Grande concerto que marcou para mim excelente ano (bébé e um diploma) um abraço Pedro

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