Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
<
p> Escrevi este texto a pedido do Expresso em Abril passado. 11 personalidades encontrando pela música, soluções e fazendo um check-up ao país. Este texto trouxe-me alguns dissabores, os do costume. Afinal esta minha ingenuidade em apelar a outro sentido de voto foi uma pequena flecha dentro do coração liberal do maior jornal politico do país, que apenas admite a esquerda levezinha do Daniel Oliveira e do seu protegido Livre, esse fenómeno capa de jornal embora só junte meia dúzia de gatos pingados nas suas sessões públicas de salvação da pátria. Este texto for retirado e colocado online por várias vezes e aqui fica mais uma vez para quem não teve oportunidade de o ler. Algumas notas: - acredito mesmo que se deva mudar o sentido de voto do eixo maldito que nos governa desde o novo Portugal democrático. - não acho que o que parva que sou ou o princesa...sejam os hinos de uma geração revolta ou inconformada. não acredito nas manifestações Time Out que percorreram a cidade para desaguarem no Cais do Sodré ao sabor do gim importado - ainda ontem estive a beber uma cerveja com o Miguel Tiago deputado da CDU e gostava que ele chegasse a ministro. Não como os Portas sentido da pátria my ass das vidas, mas como símbolo de alguém que quer trabalhar para fazer melhor. de resto é lerem, um abraço e bom fim de semana! Que Portugal anda desafinado, todos sabemos. Aliás, é público que o nosso primeiro-ministro, esse barítono de papo cheio, nos quer levar em cantigas, mas estes navegadores de agora, toda a nossa massa cinzenta e empreendedora, já não cai no canto da sereia. É preciso mudar o disco, apanhar o ritmo. Na verdade, o fatalismo do Fado que exportamos ora com capa alegre, ora com sorriso triste, ou açucarado com outrora nas fazendas do Brasil, é coisa que nos colou à pele e já não sai. Seremos então todos fadistas de vocação e destino. Teremos todo este F tatuado na testa? O hip-hop deixou de ser social, a maioria pelo menos e passou a ser conto de fadas romântico para damas e princesas. Dali nem uma pedra sairá para afugentar as moscas do charco. A musica clássica é a das tardes do CCB para burguês ver e tentem entrar numa Gulbenkian ou num S. Carlos de jeans e tatuagens ao léu, e todos os olhares ainda se voltarão para vocês, com exactamente há quinze anos atrás quando fui ver o Fausto de Gounod, porque gosto, porque me encanta e porque fui para ver e não para ser visto. As feiras por esse país fora encerraram-se na brejeirice do tem fio o nabo, ao som de concertinas televisionadas, onde se dão mais subsídios que ao teatro em Portugal. O que interessa é o cabaz no fim, o vermelho das chouriças e das caras e das pernas das bailarinas Brasileiras. Que mais? O novo Pop ruma até ao passado e somos todos Heróis do Mar outra vez, todos Variações outra vez mas sem a acutilância, apenas letras inofensivas do fui ali e já volto ao Bairro Alto, apesar da crise os copos ainda são baratos, e os amigos altamente impressionáveis. Por fim entregámos o título de cantores de intervenção às pessoas mais betas do mudo, para as quais está sempre tudo bem, que dizem sempre o correcto, que estão no sítio certo á hora certa fingindo-se de parvos e vítimas para uma geração que muito mais que lutar, quer fazer a luta sentada, com os amigos ao lado, algo suave, que não seja muito alto, que dê para um pezinho de dança mas que fique tudo na mesma, quando discutimos os resultados da mania entre imperiais e tremoços. Sou suspeito, muito suspeito mas acho que falta ao país a dinâmica do Rock em todo os seus sentidos: o Punk, o Metal, o Stoner, que não sendo também eles intervenção pura, existem enquanto sociedade organizada de insatisfeitos limitada, uma panelita de pressão que pode ensinar muito acerca de como se faz as coisas com pouco, sem a mãozinha por baixo do estado e dos institutos que tal como na política, se recusam a experimentar a mudança radical e foram construindo um bloco central de música, povoado por burgueses e seus clientes, um lobbying que nos faz andar em círculos, mas sem tentar morder a própria cauda para sentir se estamos vivos. Por isso: mudar a dinâmica, berrar, tocar rápido, ir ao fundo das coisas é o que necessitamos: uma nova música, um novo paradigma, uma nova era. Sim vão votar no PS e no PSD outra vez, sim comprem sempre os mesmos discos, enganem-se com fados abrasileirados ou com kizombas ocidentais. O segredo da política em proveito próprio é manter tudo como estava. Eu continuarei a acreditar no Rock como sinónimo de mudança, nos partidos que nunca governaram, na CDU ao poder, porque não?, o que temos a perder? Às vezes temos de levantar o rabo das cadeiras dos auditórios, mandar fora toda a tralha publicitária com que bons enchem as mãos no festival e pegar na foice, no martelo, nas guitarras altas e bom som e gritar a plenos pulmões: basta! É tempo de acertarmos o ritmo, melhorar o conteúdo e deixarmos de ser ratinhos na roda. Pergunto outra vez, o que temos a perder? Let's rock'n'roll!!! FR
Vejo o nascer do Sol numa estrada Polaca a caminho de Varsóvia. São 4 da manhã. Os Eslavos levantam-se cedo. Foi um fim de semana delirante. Muita coisa se passou. Muita coisa aconteceu. A maior parte só a nós nos diz respeito. Esta é uma paragem necessária e obrigatória por Lei. O nosso condutor, Pawel, um Polaco gordinho e super profissional, galgou quilómetros e horas e pede meia-hora para descansar. O disco digital incorporado no seu minibus também não nos deixaria partir mas, engraçado, ele programa o despertador para daqui a 40 minutos exactos , fecha as cortinas e põe os óculos de Sol e daí a quarenta minutos exactos entra na estação de serviço onde eu estou no terceiro café da viagem, a sacar net para meter um post que agradeça a quem nos viu nos Cárpatos e avise quem queira ir a Albufeira. Nesta paragem, respiro. Para trás ficaram 22 horas neste mesmo minibus; um regresso ao passado das fronteiras terrestres e das papeladas no nosso caminho entre Eslovénia-Polónia- Ucrânia. Oh, Nikita, is it cold? Para trás "os odeio este país que nos faz secar três horas por causa de miudezas que já não se usam neste Europa unida". Depois a mudança de opinião quando as pessoas que há minutos falhavam com o prometido agora sorriem e nos dão o melhor que têm, a sua gastronomia, o seu chá gelado-fumado; o seu sorriso nas selfies sem fronteiras. A mente muda com a colocação do corpo. A febre da cabina; a exultação do ar livre. Dentro da carrinha, na viagem de ida: os nossos amigos inseparáveis, a banda grega Septic Flesh. Uns pelo oxi, não, pelo apocalíptico Syriza ; outros considerando que sim os gregos festejam e preguiçam em demasia e que os alemães tem razão. Lá fora, uma Polaca de fazer parar o trânsito, cá dentro homens que talvez viajem em demasia. Esperamos, corremos. Esta é a dinâmica dos nossos corpos. Qual será a dinâmica da nossa mente? No avião para casa, atrasado, a tempo, pressas,sorrisos, caras fechadas, lemos as revistas e os jornais. Um sociólogo (perigosamente perto da sociopatia) na Sábado diz mal de tudo. Diz mal do Obama, a sua presidência "um doloroso incidente" que ajudou a legalizar drogas leves; casamento gay; que capturou e matou (talvez simbolicamente apenas) o Bin Laden; que atentou contra o capitalismo da saúde propondo o acesso livre à saude. Amigos pessoais que foram deixados a morrer porque não conseguiram um empréstimo bancário para operarem o tumor no cérebro. Cuba a impedir a transmissão do vírus HIV de mãe para filho (vais dizer mal disto ò Alberto?). Um Portugal de direita, implacável com a Grécia, com o Podemos, simpatizando com a ironia dos destinos negros das grandes civilizações. Em casa de ferreiro...Todas as grandes nações...na merda...Egipto, Portugal, Espanha, Grécia, Itália, PIGS, gerando monstros em vez de maravilhar como outrora. Aconteceu? Contexto, conjuntura, pontes de ignorância do futuro que não consegue aceder ao disco rígido dos continentes, da História sem abstracção. O Mundo é um gajo complicado. Onde está a razão, porquê adicionar ao ruído outro blog, mais palavras, mais amarguras, mais opinião. Alemães que me devem dinheiro enquanto me moralizam. Gregos que polarizam. Que polinizam. Que confusão na cabeça. O Português que tudo sabe e que tudo quer debater. As férias. O nosso umbigo moreno no fim da Europa. As férias. Que todos merecemos por igual. E este nascer do Sol, contemplado em silêncio na estranheza de um mundo que nunca se entenderá. Que nunca entenderei. Vou para casa pensar mas talvez durma. As horas pesam. As palavras ainda mais. Só sei que estamos todos perdidos, todos contra todos, e podia ser poético e agarrar-me ao nascer do Sol, vermelho, eslavo, bonito. Mas não. Alguém me irá chatear por nos sentarmos aqui ou ali, ou porque tiramos a selfie só depois de fazer xixi, ou como é possível eu editar um livro no Brasil se sou contra o acordo ortográfico. Eles. Nós. Tudo é escolha. Marcaremos uma reunião. Um almoço. Afinal todos nos queremos esclarecer. Ter a razão do nosso lado. Todos vitimas, incompreendidas. Tudo é estranho, afinal. Mas há coisas bonitas, Alberto.
Em quem nos tornámos? Non serviam Cedi à pressão e senti cada palavra como um prego cravado nas veias das mãos. Desisti de vir aqui escrever e deixar as minhas ideias e pensamentos, com ou sem fundamento, razão ou levados pela emoção de gostar do meu país. Uma demonstração de resistência. Não tomar a árvore pela floresta. Ou pelo contrário. Até que passado um bom tempo a observar, ressuscitei para a vida escrita. E reconheci, como me disseram muitos, que desistir não é opção e que vozes como a minha, perdão pela imodéstia, são talvez necessárias para desafinar o coro ordeiro dos nossos músicos que respondem sim e não, nim,conforme a ocasião e, digo eu, a consequência. Baralhar um pouco a ordem dos textos engravatados de neo-liberalismo e de moral que por vezes se dão mal, cabendo sempre mais um na cadeia da mediocridade serviçal e programática, é, realmente, a minha intenção. Este tempo de, como diriam outros, reflexão fez-me observar diversas coisas e teve o condão de me fazer sentir aliviado porque na verdade nunca estamos sozinhos quando levamos na cabeça. Fez-me ver que o cidadão comum quando se envolve em polémica é para valer e aí sim o Português pesquisa, e vai buscar coisas à cabeça de um tinhoso porque ter razão é tudo quanto interessa em muitas das discussões que vão aparecendo, nos cafés ou nas redes sociais que lhes fazem a vez. A onda, quanto a mim, indigna contra o que o governo Grego está a fazer é um perfeito exemplo disso. É o enfiar do barrete saloio, do bom aluno, do pagador, do que rebusca no lixo para mandar porcaria acima. Seremos mesmo um povo tão corajoso, tão bom de contas, tão exemplar e recto? Ou teremos nós caído na esparrela alemã do alles gegen alles, fechando os olhos a actos verdadeiramente democratas, de dedo esticado a apontar e a pensar "vês? eu bem te disse." Muitas vezes o emitir da minha opinião tem sido confundido com uma espécie de " ressabiamento", até por pessoas que fazem vida do comentário, o que não é o meu caso. No post do Fernando Tordo, o meu momento de fama no reino da opinão (doxa ver temos grego) foi tomado como um insurgir injusto contra um colega de profissão; depois, de repente, tornei-me milionário às custas dos vossos impostos, como se eu não os pagasse também e não desse trabalho a tantos que me ajudam a executar a minha função de cantor de uma banda. Outros, deram-me razão e desafinaram comigo. Não podemos nem devemos entregar a defesa dos nossos direitos e opiniões, sejam elas quais forem, a quem responde "depende". É tempo de tomar posição e ver as coisas para lá das coisas. É tempo de a música fazer mais que entreter teatros e é tempo de juntar as nossas vozes para ressabiarmos juntos. Porque é assim que se luta e não a sorrir de alívio por pagarmos resgates de bancos e bónus chorudos a quem nos leva à bancarrota financeira e anímica. Sim espero que a Grécia não pague, assim como nós não deveríamos ter pago um cêntimo aos agiotas, esta peste negra do nosso século. Porque já não há mais nada para venda que não países, é tempo de pelo menos percebermos o que se passa, ir vivendo as dificuldades com a dignidade do conhecimento de causa, e não nos atirarmos ao pescoço do nosso congénere: a pessoa comum que quer colocar pão na mesa, cultura na alma, a sua música na rádio ou seja o que for, insignificante ou importante,não nos cabe julgar, apenas denunciar a injustiça dos sonhos que ficam pelo caminho. Desde quando nos tornámos nós justiceiros populares? Quem somos nós,afinal, povo Português? Vamos respirar fundo e pensar ainda mais longe. É a nossa obrigação para com o nosso país, para com a Europa dos filósofos, Alemães ou Gregos,não interessa. Ambos a pensaram outrora de uma forma que em nada se assemelha a esta guerra desarmada mas que faz, não obstante, vítimas. É o nosso dever para com um continente que ainda permite comunistas, socialistas, conservadores, republicanos, e sociais-democratas conviverem e irem a tempo de extirpar a raiz podre do mercantilismo feito com a alma e com o dinheiro dos povos. Fernando Ribeiro PS: O Lado Lunar está de volta, para ficar. Agradeço a quem se dá ao trabalho de me seguir. É para mim uma honra necessária, comunicar. Foto: telegraph.co.uk all rights reserved
#nonserviam #grecia #europa